domingo, 6 de abril de 2014

Medo de falar em público: insegurança ou sociabilidade?

Exceto os profissionais que por força do hábito possuem experiência, a maioria das pessoas têm algum tipo de receio de falar em público.

Nessas situações alguns conseguem reagir com uma certa tranquilidade, mesmo não estando à vontade. Outros reagem com maior apreensão, embora consigam força suficiente para não recuar. Contudo, não é raro encontrarmos pessoas para as quais a tarefa de falar em público não só se constitui numa eventualidade desconfortável, mas numa verdadeira tragédia anunciada.


Aterrorizados por enfrentar o público, por menor que seja a audiência e por mais simples que seja o assunto, essa exposição provoca em determinadas pessoas um medo paralisante, comumente antecedido por períodos de angústia e ansiedade. Conheci gente que mesmo em situações amenas preferiu fugir do compromisso do que passar por tal experiência.

No mundo corporativo é muito comum que líderes e gestores sejam cada vez mais exigidos a realizarem apresentações públicas. Para não arriscarem suas carreiras ou até seus próprios empregos, aqueles que têm essa dificuldade acabam por decidir ir em busca de ajuda. Essa ajuda pode vir através de uma terapia ou, mais comumente usada no meio corporativo, através de um coach. Aliás, para vencer a paura de falar em público os processos de Coaching são muito eficazes.

O fato é que pessoas que têm medo de falar em público são taxadas de inseguras. Embora toda generalização seja perigosa, percebo que hoje há um outro fator que dispara essa "insegurança", um fator que resulta dos novos tempos: a "falta de vivência social".

O que quero dizer com isso é que hoje o indivíduo mesmo conectado em grandes redes e com centenas de pessoas dispostas num formato de comunidade, tal posição não exercita plenamente a sua sociabilidade. É inegável a economia de tempo e o encurtamento das distâncias que a tecnologia propicia, tornando qualquer pessoa acessível a um custo de comunicação que tende a zero. No entanto, esse cenário pode comprometer muito a capacidade de comunicação de uma pessoa. Em outras palavras, a falta de exercício do "diálogo livre", isto é, aquela conversa que flui sem qualquer tipo de preparação e que utiliza como informação as manifestações do comportamento das pessoas, tais como a expressão corporal e o tom de voz, podem reduzir significativamente o que chamo de "vivência social".



Se hoje estamos massivamente conectados, mas perdendo o hábito e o exercício presencial, a consequência imediata é a queda da empatia, ou seja, por detrás de um computador a dificuldade de percebermos os sentimentos dos outros aumenta muito. Com a empatia em baixa, a habilidade em desempenhar um "diálogo livre", seja ele individual ou em grupo, passa a ser uma experiência plastificada, isto é, quase sem nenhuma exposição.

De fato isso acontece porque dentro de um cenário virtual aquilo que identifica as pessoas se resume ao que é midiático. Delas resulta uma imagem pensada e construída. Por consequência, falar para uma platéia é o mesmo que defender essa imagem construída. Pior ainda, é como submetê-la a julgamento e à comprovação pública.


Mas, como tudo na vida, a saída está no equilíbrio. Sabemos que o convívio social é tão importante quanto não perder tempo para enviar uma comunicação urgente usando um celular. Porém, ter esse discernimento é a condição necessária para desenvolvermos a consciência de quem somos e o que sentimos minimamente.


Como seres sociais precisamos do convívio constante, pois a armadilha do isolamento social se apresenta toda vez que ligamos um computador ou um celular. O problema é que só vamos perceber essa armadilha quando experimentarmos uma situação tal qual falar em público ou, talvez, até numa simples situação de nos encontrarmos com uma única pessoa, só que "ao vivo".


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